fragmentos

Links variados sobre o assunto e fragmentos de Gaston Bachelard. Apoiamos nossa pesquisa em seus escritos sobre a imaginação criadora.



Livros de Artista


Constança Lucas       Su Blackwell    



Algumas referências

Debussy, Clair de lune (piano music)


Depoimento de Giselle Beiguelman 



Roger Chartier - entrevista




Introducing the book (repost)




Livros digitais: O futuro?





Roger Chartier



Technology & the Future of the Book



Books, Google and the Future of Digital Print



Nesses últimos dois videos nós temos a biblioteca de Harvard se negando a deixar que a Google digitalize a biblioteca deles e no outro vídeo, mostra uma universidade que resolveu aceitar o acordo.


Robert Darnton e o futuro dos livros




The Story of the Digital Book



















TRECHOS




BACHELARD, Gaston. O Ar e o Sonhos, Ensaio sobre a imaginação do movimento. São Paulo: Martins Fontes, 2001.


" Hermès est un guide, qui épargne au profane les risques d'errance et de perdition. Mais il est aussi l'inventeur de la lyre et se trouve aux origines de la póesi "  Christian Jacob. 1981. p.30 Arts et legendes d'espaces: figures du voyage et rhetoriques du monde.

Hermes é um guia que salva o profano dos riscos da errância e da perdição. Mas é também o inventor da lira e se encontra nas origens da poesia.


Parece até que todas essas incoordenações dão às vezes um aspecto tão bem definido que pode servir de esquema para a coerência pela mobilidade. P.7


O hábito é a exata antítese da imaginação criadora. P.12

A imagem aprendida nos livros, vigiada e criticada pelos professores, bloqueia a imaginação. Pg. 12

Consideremos também que a construção lógica costuma se prevalecer de uma preparação sonhadora, de modo que certos pensamentos gostam de apresentar seus sonhos como “antecipações” razoáveis. P.26

O homem entregue à vida desperta,racionaliza os seus sonhos com conceitos da vida usual. Lembra-se vagamente das imagens do sonho e as deformará ao exprimi-las na linguagem da vida acordada. Não percebe que o sonho, sob sua forma pura, nos entrega totalmente à imaginação material e à imaginação dinâmica, e que em contrapartida, o sonho, sob sua forma pura, nos liberta da imaginação formal. Ps.26 e 27

A imaginação material é realmente o mediador plástico que une as imagens literárias e as substâncias. Exprimindo-os materialmente, podemos colocar toda a vida em poemas. P.38

O impulso suspenso é precisamente o voo onírico. P. 40


É o movimento que cria a visão, o movimento vivido traz o bálsamo de uma calma que o movimento contemplado nunca dará. P.44

As imagens tornam-se obscuras ou vãs para um leitor que recusa o impulso poético muito especial que o produz. Ao contrário, uma imaginação simpaticamente dinamizada as acharás vivas. P.46

Compreendemos tão depressa que esquecemos de imaginar. P.54

Na narrativa balzaquiana, o leitor que "pensa" a tomará como uma imagem vã. Queremos ser o leitor que "imagina ".(...) Vivamos, pois, a progressão do abstrato para o concreto, já que sempre é preciso reanimar as palavras pelas imagens.P.55

Mas precisamente, quanto mais fraca é a erudição, mais importante é a imaginação, mais diretas são as imagens. P.57

O mundo visível é feito para ilustrar belezas do sono. P.67

Acho lindo contemplar a descoberta do infinito, saber que é criação. (Dayla)
Mas perdereis vosso tempo ao surpreender esse mundo em sua origem, quando ele já vive em sua expansão. Perdereis vosso tempo ao analisa-lo, quando ele é a síntese pura do ser e de um devir. P.85

(...) as linhas da imaginárias são as linhas da vida, aquelas que mais dificilmente se rompem. Imaginação e Vontade são dois aspectos de uma mesma força profunda. Sabe querer quem sabe imaginar. À imaginação que ilumina a vontade se une uma vontade de imaginar, de viver o que se imagina. No próprio detalhe, apresentando imagens em boa ordem, determinamos portanto ações correntes. 
Os moralistas gostam de falar-nos da invenção em moral, como se a vida moral fosse obra da inteligência! Que nos falem antes do poder primitivo: a imaginação moral. É a imaginação que deve fornecer-nos a linha das belas imagens ao longo da qual há de correr o esquema dinâmico que é o heroísmo. O exemplo constitui a própria causalidade moral. Porém, mais profundo ainda que os exemplos oferecidos pelos homens, é o exemplo fornecido pela natureza. A causa exemplar pode converter-se em causa substancial quando o ser humano se imagina de acordo com as forças do mundo. Quem tentar igualar sua vida à sua imaginação sentirá crescer em si uma nobreza ao sonhar a substância que sobe , ao viver o elemento aéreo em sua ascensão.P.112

A imaginação se designa como uma atividade direta, imediata, unitária. É a faculdade em que o ser psíquico tem mais uma unidade e sobretudo em que ele conserva realmente o princípio de sua unidade. Em particular, a imaginação domina a vida sentimental. Acreditamos, de nossa parte, que a vida sentimental tem uma verdadeira fome de imagens. Um sentimento é animado por um grupo de imagens sentimentais, essas imagens são normativas, querem fundar uma vida moral. É sempre benéfico oferecer "imagens" a uma coração empobrecido. P.116


O que queremos demonstrar, de um modo geral, é exatamente a necessidade de pesar a matéria de um adjetivo para conhecer a vida metafórica da linguagem, e devemos guardar-nos de acreditar que a imaginação do adjetivo ligado à aparência determina automaticamente a imaginação do substantivo. P.132

Um  leitor que, deformado pelo intelectualismo, coloca o pensamento abstrato antes da metáfora, um leitor que acredita que escrever é procurar imagens para ilustrar pensamentos, não deixará de objetar que essa pesagem do mundo- sem dúvida ele preferirá dizer avaliação ponderal do mundo- não passa de uma metáfora destinada a exprimir um valor, a avaliar o mundo moral.P.142

(...) : a imagem literária tem vida própria, ela corre como um fenômeno autônomo acima do pensamento profundo. P.143 

Pode, muito precisamente, servir-nos  para separar em dois tipos a imaginação da vontade, para vermos melhor que a vontade é solidária de dois tipos  de imaginação: de um lado , a vontade- substância , que é a vontade  schopenhaueriana, e  de outro, a vontade- potência , que é a vontade nietzschiana. Uma quer conservar. A outra  quer arrojar-se.P.149

Só a imaginação dinâmica pode dar-nos imagens adequadas do querer. A imaginação material nos dá apenas o sono e os sonhos de uma vontade informulada, de uma vontade adormecida no mal ou na inocência. P.150

O ser imaginante e o ser moral são muito mais solidários do que pensa a psicologia intelectualista, sempre pronta a considerar as imagens como alegorias. A imaginação, mais que a razão, é a força de unidade da alma humana. P.153

Primeiro o devaneio - ou a admiração. A admiração é um devaneio instantâneo. Depois a contemplação - estranho poder da alma humana capaz de ressuscitar seus devaneios, de recomeçar seus sonhos, de reconstituir, apesar dos acidentes da vida sensível, sua vida imaginária. A contemplação une mais ainda lembranças que sensações. É mais ainda história que espetáculo. É quando acreditamos contemplar um espetáculo prodigioso de riqueza que o enriquecemos com as lembranças mais diversas. P.169


Caráter autoritário do devaneio = o mais gratuito dos poderes criadores. P.190

A primeira tarefa do poeta é libertar em nós uma matéria que quer sonhar. P.194

Poderíamos, aliás, enunciar, como verdadeiro postulado da imaginação material e dinâmica, a seguinte proposição: aquilo que é difuso nunca é visto na imobilidade. P. 202

Se nos acostumarmos a deixar viver lentamente em nós as grandes imagens , a seguir os devaneios naturais, compreenderemos melhor a filiação de certos mitos. Assim, a imaginação, estudada em seu princípio dinâmico, tornará mais natural o tema aparentemente tão bizarro da árvore cosmológica. Como pode uma Árvore explicar a formação do Mundo? Como pode um objeto particular produzir todo o universo?
Numa época de pragmatismo generalizado, não hesitaríamos em explicar tudo pela utilidade. (...) Esse conglomerado de utilidades determinaria um conceito do útil, mas tais utilidades são bem insuficientes para explicar a força original do sonho mítico(...) Todos esses mitos nos habituam a associar a grandeza e o poder às imagens do nosso devaneio.
Parece-nos, portanto, que simples estudos sobre a imaginação atual podem ajudar a reencontrar os princípios oníricos de certos mitos. Se os símbolos se transmitem tão facilmente, é porque crescem no próprio terreno dos sonhos. A vida ativa , com muita frequência, não lhes daria razão. O devaneio alimenta-os indefinidamente. Ps. 223 e 224

Como dizer melhor que o mito não se anima somente com imagens visuais e que ele pode manifestar uma imaginação diretamente falante? (...)Sem dúvida, pode-se evocar a cultura antiga para explicar a imagem do fabulista. Mas esta não é uma razão para subestimar o devaneio pessoal. Parece, efetivamente, que a cultura, dando-nos conhecimento dos mitos antigos que se assemelham a certos temas de nossos devaneios, nos dá permissão para sonhar. P.225

Pelo conhecimento dos mitos, certos devaneios, tão singulares, se declaram objetivos. Unem as almas como os conceitos unem os espíritos. Classificam as imaginações como as idéias classificam as inteligências. Nem tudo se explica pela associação de ideias e a associação das formas. É preciso também estudar a associação dos sonhos. A este respeito, o conhecimento dos mitos deve ser uma reação salutar contra as explicações clássicas da poesia, e é de admirar a ausência de qualquer estudo sério da mitologia na educação do nosso tempo. p.227

Mas o sonho não segue o caminho da razão. Quanto mais forte é a razão que se opõe a um sonho, mais o sonho aprofunda as suas imagens. Quando o devaneio se entrega realmente, com todo o seu poder, a uma imagem adorada, é essa imagem que regula tudo. Então o absurdo tem uma lei. P.228